A Casa-Museu
A Casa-Museu Abel Salazar, que ocupa o edifício onde Abel Salazar (1889-1946) passou os últimos 25 anos de vida (1921-1946), tem como missão expor, conservar e interpretar o legado do multifacetado professor da Universidade do Porto, bem como contribuir para o estudo e divulgação da sua vida e obra.
A Casa-Museu Abel Salazar localiza-se na Quinta da Devesa, em S. Mamede de Infesta, Matosinhos, no traçado de uma antiga estrada romana e no caminho para Santiago de Compostela. O imóvel é uma “casa de brasileiro de torna viagem”, que substituiu um solar da Época Moderna, do qual subsiste a capela de invocação a Nossa Senhora da Apresentação.
A exposição de longa duração desta instituição cultural apresenta objetos pessoais, obras de arte (entre desenhos, pinturas, gravuras, esculturas e cobres martelados), trabalhos científicos, livros e outros escritos, testemunho da vida singular e das várias atividades e interesses de uma das mais ímpares figuras da história da Universidade do Porto.
No rés-do-chão da Casa Museu estão expostas pequenas esculturas, desenhos e algumas das primeiras pinturas a óleo de Abel Salazar. São paisagens do Minho, retratos da ruralidade e das aldeias de Guimarães. Na antiga capela do século XVIII, à volta da qual se ergueu a casa, podem ser observados alguns bustos – retratos fiéis de pessoas amigas ou familiares – e um conjunto único de cobres martelados, cuja técnica e qualidade nada encontram de semelhante na arte portuguesa. A fotografia da multidão presente no cortejo fúnebre à chegada ao cemitério do Prado do Repouso, no Porto, em janeiro de 1947, documenta uma impressionante manifestação de respeito e admiração populares pela personalidade de Abel Salazar, que nem o regime fascista vigente pôde conter.
No piso 1, três salas reconstituem o ambiente em que viveu Abel Salazar. Atelier, Sala de Estar e Sala de Jantar mantêm os móveis e a disposição da época, albergando hoje parte da obra plástica e literária de Abel Salazar. No Atelier, um conjunto significativo de quadros, integrados em diferentes fases da sua pintura, interpretam a mulher trabalhadora em feiras e mercados e o labor quotidiano de tanoeiras, carvoeiras e leiteiras.
Na Sala de Estar surgem as primeiras pinturas de figuras masculinas. Ao contrário do que acontece com a mulher, anonimamente presente na maior parte dos desenhos e pinturas, os homens representados são amigos ou pessoas que Abel Salazar admirava. É o caso do Dr. Santos Silva, António Luís Gomes, Henrique Pousão e Guerra Junqueiro, cujos retratos a óleo se encontram nas paredes desta sala, convivendo com pinturas de mulheres burguesas e de alguns familiares. Duas estantes contêm diversos volumes da vasta bibliografia publicada por Abel Salazar sobre os mais variados assuntos e exemplares de catálogos de exposições em que o Mestre participou. Um antigo contador merece destaque pela apropriação artística das manchas e dos veios da madeira, transformados por Abel Salazar em subtis formas femininas.
A Sala de Jantar mantém a configuração original e os móveis usados por Abel e Zélia Salazar, sua esposa. A mulher burguesa, representada pelas elegantes figuras parisienses, surge também nas paredes desta divisão, bem como um brasão de família do Mestre, reproduzido nas cadeiras que circundam a mesa.
No segundo piso, no Hall Científico, estão expostos utensílios de laboratório, artigos científicos e desenhos histológicos de Abel Salazar, bem como outros documentos de alguma forma ligados ao seu trabalho de investigador. A faceta humorística de Abel Salazar está patente na Sala da Imprensa, com a exposição de uma amostra considerável de caricaturas de professores e colegas e de uma das muitas cartas charadas com que gostava de surpreender familiares e amigos.
Na Sala da Gravura, são exibidas águas-fortes, pontas secas e monotipias, resultantes de um intenso trabalho em torno das várias técnicas de impressão, desenvolvido nos prelos expostos no centro da sala. Inúmeros exemplares de jornais e revistas, guardados nesta divisão, lembram a atividade de Abel Salazar como colaborador numa imprensa combativa e interessada nos problemas intelectuais e sociais do seu tempo. Neste mesmo andar fica, ainda, o Quarto com a mobília original, iluminado por um candeeiro de cobre feito pelo próprio Abel Salazar.
No Pavilhão Calouste Gulbenkian, situado no jardim da Casa Museu, realizam-se ateliers educativos, conferências, colóquios, lançamentos de livros, concertos de música, entre outros eventos culturais. Através de exposições temporárias, promovem-se novos valores do panorama artístico nacional e internacional e expõem-se nomes consagrados da pintura, escultura, desenho, fotografia, entre outras expressões artísticas contemporâneas.